Prévia de construtoras atesta 2011 fraco

Reuters

Considerando seis companhias que representam o setor imobiliário no Ibovespa, vendas cresceram 5,5% no ano passado

 

As principais construtoras e incorporadoras do país apresentarão em cerca de um mês seus balanços para o quarto trimestre e acumulado de 2011, ano marcado por certo desaquecimento do setor. Os dados operacionais preliminares já divulgados eliminam qualquer possibilidade de surpresa nos balanços, atestando que o último ano foi, de fato, mais fraco que 2010.

Se consideradas as seis companhias que representam o setor imobiliário no Ibovespa, as vendas contratadas e lançamentos em todo o ano passado cresceram 5,5% e 5,2%, respectivamente, ante 2010, considerável desaceleração em relação aos saltos de dois dígitos vistos há cerca de dois anos.

Vale lembrar que, apesar do crescimento, o último ano foi marcado por uma série de reduções nas metas traçadas pelas próprias empresas.

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Tais metas, entretanto, podem ter contado com uma dose excessiva de otimismo. Com os números do quarto trimestre -considerado o mais importante para o setor-, grande parte das companhias não chegou a alcançar o ponto-médio das estimativas, ficando perto do piso das projeções.

"Houve desaceleração da velocidade de vendas, mas o patamar ainda é saudável", diz o analista René Brandt, da Fator Corretora. "Ao longo do ano, a redução (de vendas e lançamentos) foi gradual e isso já era esperado pelo mercado."

De fato, com a proximidade do final do ano, muitas empresas sinalizaram ao mercado que poderiam não cumprir suas estimativas, como a MRV, que informou em novembro que ficaria abaixo do ponto-médio da meta de vendas em 2011, informação confirmada na noite de segunda-feira. Outras como Gafisa, Cyrela Brazil Realty e Brookfield Incorporações optaram por reduzir as projeções iniciais.

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"As empresas vão começar a olhar mais para vendas do que para lançamentos, priorizando uma boa velocidade de vendas para resguardar o fluxo de caixa", afirma o analista Wesley Bernabé, do BB Investimentos, que assinala a redução do número de lançamentos como fundamental para a geração de caixa positiva.

Nesse sentido, os profissionais que acompanham o setor não prevêem grandes impactos nos resultados das empresas em decorrência da desaceleração vista no lado operacional, descartando qualquer possibilidade de números inesperados.

"O quarto trimestre deve manter a tendência positiva vista no período anterior", apontou o Credit Suisse, em relatório, apostando na continuidade da melhoria de margens, maior reconhecimento de receita e menor consumo de caixa.

Também na aposta de balanços sem surpresas, o analista da Fator pondera que a receita das companhias crescerá de forma menos acentuada. Como o Credit Suisse, ele ressalta o efeito positivo de melhoria de margens apoiada em maior reconhecimento de receitas, provenientes de empreendimentos mais antigos.

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Segundo ele, considerando as prévias divulgadas, PDG Realty, Rossi Residencial e MRV devem figurar entre os balanços mais "saudáveis", enquanto Gafisa, que foi penalizada durante 2011 por problemas com a integração da Tenda, deve precisar de um tempo maior para se recuperar.

"Em linhas gerais, o quarto trimestre não vai ser muito diferente do terceiro porque o ciclo (do setor) é longo", afirma Bernabé, do BB Investimentos, que também considera a Gafisa como a única indefinição a ser observada com cautela pelo mercado.

Menos lançamentos em 2012

Na visão de analistas que acompanham o setor, este ano deve ser marcado por uma redução no ritmo de lançamentos, decorrente da desaceleração dos níveis de vendas no ano passado. O foco das empresas, enquanto isso, passará a ser a normalização das operações.

"Não faz sentido continuar com excesso de oferta no mercado", diz Bernabé, referindo-se ao menor patamar de velocidade de vendas em 2011. "A redução de lançamentos pode ser um teste para a demanda, para a velocidade de vendas se estabilizar".

Ainda no sentido de garantir maior atenção à rentabilidade, as empresas devem se preocupar ao longo deste ano em reduzir o nível de estoque de imóveis, segundo analistas.

"O estoque aumentou muito e o foco deve ser em vendas", afirma o analista da Fator. "Para lançar mais é preciso esperar o aumento do poder de compra do consumidor, o que leva tempo… Enquanto isso, o crescimento será mais estável."