Artigo: O cooperativismo e a necessidade de investimentos tecnológicos

Ricardo Costa Bruno

Não bastasse a pandemia de covid-19 já ter causado tantas dores e dificuldades para a humanidade, agora temos a guerra entre Rússia e Ucrânia em curso. Além do abalo humanitário, o mercado mundial também é fortemente influenciado por essas situações. Tudo isso, nos faz refletir sobre o futuro e as mudanças que estão ocorrendo, incluindo no nosso agronegócio, que depende muito do mercado internacional.

Até ontem, o mercado trabalhava com as seguintes estratégias: a primeira era direcionada para organizações cujo foco deveria ser naquilo que é forte, ou seja, com produtos de qualidade e foco voltado para aumentar a eficiência com o objetivo de conseguir mais mercados, maiores resultados e o pleno desenvolvimento. Na segunda, as organizações sabiam aquilo que não tinham condições de obter a qualidade e os bons resultados esperados e, por isso, buscavam adquirir fora, especialmente no mercado mundial, inclusive onde poderiam comprar o que não era possível de se obter internamente até com preços muito mais atraentes.  

Ocorre que um mundo essencialmente globalizado, que por tantos anos se buscou e foi defendido (e que contribuiu para o desenvolvimento dos países), agora foi fortemente afetado. Essas mudanças nos levam a repensar em um novo mercado, com menos dependência externa e mais esforços para se ter internamente aquilo que é essencial para um negócio e para o Brasil. A dependência externa de produtos/insumos essenciais para determinada empresa/País não se mostrou eficaz como se imaginava, e isso foi percebido claramente na questão dos fertilizantes para o agronegócio, do refino do petróleo e até mesmo na necessidade de containers para o escoamento dos produtos, o que causou grandes embaraços logísticos.

Business success concept on wooden background high angle view. hands protecting wooden figures of people.

Desta forma, não só os países, mas sobretudo as empresas, precisam rever seus planos estratégicos para definirem aquilo que é essencial para o desenvolvimento de sua atividade e entender os meios para que não sejam afetadas por acontecimentos adversos. Portanto, as organizações devem analisar se possuem condições de ampliar o número de fornecedores, inclusive de localidades bem diferentes e, além disso, verificar se há também a possibilidade de produzir o insumo necessário para sua atividade, fator este que se tornou fundamental. Aqui podemos exemplificar a força que o cooperativismo possui para buscar essas novas formas. As cooperativas contribuem para o desenvolvimento de produtos estratégicos não só para elas, mas também para todo o mercado.

O desenvolvimento tecnológico há tempos é a tônica das cooperativas, principalmente no segmento agropecuário. Desde a produção de sementes, elas agregam alta tecnologia, passando pela agricultura de precisão com equipamentos digitais até o aperfeiçoamento da logística para a chegada dos alimentos à mesa da população. Isso demonstra a importância que elas possuem no seu meio de atuação. 

A reserva de recursos para tal finalidade contribuiu e muito para o crescimento das próprias cooperativas. Entretanto, diante do atual cenário, elas precisam ainda mais de disponibilidade financeira para que esses investimentos sejam maiores, visando proteger a si e também o mercado nacional da dependência externa por produtos que podem se tornar escassos do dia para noite. Além, é claro, da oscilação de preços que, em casos de guerra, por exemplo, podem ficar muito mais altos e trazer impactos nos valores no mercado interno.

É estratégico ao Brasil que as cooperativas contribuam para o desenvolvimento e implementação de novos sistemas de produção de alimentos, evitando a dependência externa. Mesmo que para isso também seja necessário investir tempo e recursos em pontos que somos fracos, pois assim contribuiremos de forma ativa para colocar comida na mesa da população, preservando a Paz.

*Ricardo Costa Bruno, sócio da área de Agronegócios e Cooperativas do Martinelli Advogados, primeira instituição não-cooperativa a receber liberação para utilizar o selo “Somos Coop”, disponibilizado pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).