Mobilidade Urbana: novos caminhos, desafios antigos

Nossa sociedade está passando por mudanças significativas capazes de
mudar as características da mobilidade urbana e os rumos do sistema
estrutural dos transportes públicos. As novas soluções que apontam no
mercado nos dão a direção de um cenário com políticas públicas que
priorizam inclusão, qualidade, matrizes energéticas e menos poluentes,
trajetos mais curtos e tempos menores de viagem. Entretanto, apesar da
tecnologia que nos permite melhorar em gestão, controle e na interação
com as pessoas, estamos cheios de desafios pela frente.

Os investimentos ainda são bastante restritos. O sistema estrutural de
transporte – módulos coletivos como ônibus e trens – precisa ganhar
mais espaço. O ponto em que estamos de expansão das cidades não
compromete apenas o espaço físico, mas a qualidade. Durante toda
história, os investimentos públicos foram muito desiguais em relação ao
transporte individual. A sociedade acabou decidindo favorecer o
automóvel, que é mais poluente, congestiona as vias e, portanto,
interfere naquilo que é desejável: cidades mais compactas, sustentáveis
e viagens mais rápidas.

Para mudar o rumo, é preciso rever o planejamento de mobilidade
favorecendo modais menos poluentes e estruturando o sistema de ocupação
de maneira mais justa em relação ao número de pessoas que se movimenta
diariamente nas cidades. Está na hora de dar prioridade ao transporte
público e aos modais de mobilidade ativa.

Outro ponto é o custeio. A tarifa pública atende questões de natureza
social e nem sempre cobre custos operacionais. Acontece que, pela
Constituição Federal, o transporte público é um direito social e tem
caráter essencial universal e isso precisa ser garantido de maneira
permanente também por meio do valor da tarifa. Precisamos encontrar
caminhos, discutir receitas extras tarifárias e cobrir o que a tarifa e
os subsídios orçamentários não conseguem. Em grandes capitais mundiais,
por exemplo, a tarifa não é paga apenas pelo usuário, mas parte vem de
mecanismos como os impostos embutidos no preço da gasolina paga pelos
automóveis.

Tudo isso tem que passar pelo debate em sociedade. A população precisa
entender porque decisões em função do desestímulo do uso do automóvel
estão sendo tomadas em prol do aprimoramento do transporte público e do
incentivo ao uso de veículos não poluentes. As condições urbanas
precisam favorecer as pessoas e as soluções precisam resolver problemas
coletivos. A todos interessa que a cidade tenha um sistema de
transporte racional, sustentável, de custo baixo e com qualidade para
que muito mais gente usufrua, poluindo menos e chegando mais rápido ao
destino.

Nos dias 24, 25 e 26 de setembro levantaremos estas e outras questões
que envolvem o transporte público na Arena ANTP, onde estarão reunidos
especialistas, gestores, operadores e a todos que importa a busca pela
qualidade no setor.

Luiz Carlos Mantovani Néspoli (Branco) – Superintendente da ANTP
(Associação Nacional de Transportes Públicos).
Engenheiro Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo,
atual Superintendente da Associação Nacional de Transportes Públicos.
Carreira desenvolvida no setor público, onde atuou nas áreas de
planejamento, projeto e operação nas seguintes empresas: Na área de
transporte, na Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô, Empresa
Metropolitana de Transportes Urbanos – EMTU, Empresa de Planejamento da
Grande São Paulo – EMPLASA e na área de trânsito na Companhia de
Engenharia de Tráfego de São Paulo – CET. Como consultor, desenvolveu
atividades de planejamento e projetos de transporte e trânsito e, como
professor, em cursos de pós-graduação de gestão de transporte e
trânsito.