Os impactos da Guerra na cadeia de suprimentos e no aumento do diesel*

Há apenas alguns meses, o mercado de logística e transportes esperava que o pior dos problemas da cadeia de suprimentos durante a pandemia tivesse acabado. E que alguma estabilidade pudesse ser restaurada em 2022.

Só que, como diz o ditado popular, “Não há nada tão ruim que não pode ser piorado”.

Após a invasão da Ucrânia pela Rússia, no entanto, o caos no supply chain global recomeçou. E desta vez entrelaçado com questões envolvendo segurança nacional, alianças políticas, sustentabilidade, mudança climática, nacionalismo, inflação e os limites da globalização.

Além de prejudicar os mercados de energia e as cadeias de suprimentos para tudo, desde trigo e fertilizantes até semicondutores e autopeças, outra grande questão está no petróleo.

A Rússia é o segundo maior produtor mundial de petróleo bruto depois da Arábia Saudita e o maior exportador de gás natural. Depois da invasão à Ucrânia, a Rússia tirou cerca de três milhões de barris de petróleo por dia do abastecimento global, despejando gasolina em um incêndio que já tinha começado.

O barril do petróleo atingiu o preço recorde de US? 133 no mercado internacional no início de março, 15% maior do que o registrado em fevereiro. Segundo o relatório Commodity Markets Outlook do Banco Mundial, o preço do petróleo bruto Brent deve atingir a média de US? 100 por barril em 2022, nível mais alto desde 2013 e um aumento de mais de 40% em relação a 2021. Os preços devem cair para US? 92 em 2023 – bem acima da média de cinco anos de US? 60 por barril.

Os mercados de commodities estão passando por um dos maiores choques de oferta em décadas por causa da guerra. O relatório aponta que os preços de matérias-primas não energéticas, incluindo agricultura e metais, devem aumentar quase 20% em 2022. Só o trigo pode encarecer 40%, chegando a um preço histórico.

O Brasil produz, atualmente, 3 milhões de barris de petróleo por dia e a expectativa é de crescer em 10% a produção neste ano. A demanda interna é muito maior e inclusive os Estados Unidos já nos procuraram para fortalecer a parceria de fornecimento. A questão é que, como o ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque disse, “aumentar a produção não é como um interruptor que você pode ligar”.

A Petrobras disse que até tentou segurar. O ano de 2021 já foi difícil, com a inflação do diesel chegando a 46,04% pelos dados do IBGE por conta da série de aumento nas bombas do ano passado.

E, em 2022 o primeiro grande aumento nas bombas aconteceu em março, com um acréscimo de 25% no preço do diesel. Em abril mais uma alta aconteceu, dessa vez de uma média de 5%. Está cada vez mais difícil encher o tanque. E quanto mais longe das refinarias, maior o preço. No Acre, chega a mais de R? 7,60.

Em fevereiro o frete foi reajustado em apenas 1,96%. Assim, para o caminhoneiro conseguir fechar a conta no azul, só mesmo se houvesse um milagre. A saída então foi aumentar em março o valor do serviço: apenas 8,75% segundo a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC & Logística).

O justo, segundo a entidade, seria que o repasse fosse de pelo menos 30%. Até para compensar todas as perdas dos últimos meses. O que fazer então? Vejo que muitas transportadoras e caminhoneiros autônomos estão adotando um gatilho.

Toda vez que o aumento com os custos chega a 10%, o preço do frete sobe um pouquinho. Sim, é uma medida dura, mas necessária. Até porque não foi só o diesel que aumentou. O preço dos caminhões novos mais que dobrou nos últimos 10 anos, assim como os insumos e valor das manutenções.

E em um país onde a malha rodoviária transporta cerca de 60% dos produtos, toda essa enxurrada de aumentos vira uma bola de neve que se reflete no preço do pão, do leite, do óleo de soja e de tudo mais que está na casa dos brasileiros.

É difícil prever quanto tempo essa crise vai durar. Toda a cadeia já trabalha com uma margem de lucro no limite e estamos cansados de tantos aumentos.

*Artigo escrito por Jarlon Nogueira, CEO da AgregaLog – transportadora digital que oferece soluções inovadoras de logística de transporte para a indústria. Mais informações no site